Caminho até a lateral do palco. Passa três passagens, calcanhar, peito e dedos. Respiro. Não há pensamentos para os amores em que me perco. Passa a perna, direita primeiro. Pára ao centro, olha na diagonal. cinco, seis, cinco seis sete oito. Precisão, movimentos claros, esse momento não volta. Será que ele está na plateia? Preparação pro salto, o braço vai ajudar a dar o impulso, é só liberar a força. Quatro e. Terceira posição. Solta o ar, apoia o braço. Esqueci da meia ponta no pé. Não pensa nos erros, a música segue. Continuo pensando no erro, a droga da meia ponta. Ele, meu amor que me perde, penso também. Corre, roda, cai. O chão é liberdade. Tem que virar o rosto no contratempo. Talvez eu devesse ter dito que não o amava, que era melhor nem começar. No contratempo, nem antes, menos depois. Três e. Isso. Sobe desenrolando. Espera dois tempos e pirueta. Os movimentos devem ser grandes, como se eu fosse minha própria extensão de mim. Joga um, segura dois. É só equilibrio. Fica. Não tenho medo de me machucar, refiro-me ao amor. Queria que ele dançasse comigo. Sete, corre oito no centro. Olha pra mão e vai acompanhando o braço. A vida vale mais quando eu danço. Vira um, marca a cabeça, vira a segunda, marca e a terceira. Passa o o braço por trás. Corre, da a volta e foi. Meia ponta atrás. Não acredito, foi. Nem sinto mais o ar, o coração bate tão rápido. Não respira. E vai desacelerando. O coração bate tão rápido, devem ser as palmas. Caminho até a cochia.